quarta-feira, 6 de abril de 2011

Países da América do Sul enfrentam problemas com o fornecimento de gás

Países da América do Sul enfrentam problemas com o fornecimento de gás

A Methanex, do Canadá, depende da Argentina para 60% do gás que necessita para a sua usina de metanol Cabo Negro, mas as reservas da Argentina secaram em junho do ano passado.
Segundo a companhia isso significou que ela deixou de produzir 600 mil toneladas apenas no quarto trimestre de 2007. O metanol, que é usado para a fabricação de garrafas recicláveis de plástico, tintas e aditivos de combustíveis, está custando US$ 698 (cerca de R$ 1,4 mil) a tonelada - mais do dobro do preço de junho passado.
Os infortúnios da Methanex são um exemplo contundente de como o Chile, que produz mais de um terço do cobre mundial, é o último elo vulnerável de uma tensa cadeia de fornecimento de gás em uma região na qual políticas populistas têm prejudicado a exploração das reservas energéticas.
A crise de energia está pesando sobre as previsões de crescimento do Chile, no momento em que o país procura assegurar uma vaga na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico. Espera-se que a economia cresça 4,6% neste ano, comparados aos 5,2% do ano passado. Maria Olivia Recart, a sub-secretária de Finanças do Chile, afirmou neste mês que as restrições relativas ao gás provocaram uma redução de 0,5% a 1% do produto interno bruto do país.
Héctor Castillo, presidente da Associação de Proprietários de Indústrias, diz que algumas companhias chilenas estão deslocando a produção para o Peru ou a Argentina devido aos custos.
Um tópico que estará na agenda dos presidente da Argentina, do Brasil e da Bolívia neste fim de semana será como fazer com que as reservas em declínio da América do Sul supram a demanda.
O Chile, que depende de combustíveis fósseis para mais da metade das suas necessidades energéticas, importa todo o seu gás da Argentina, mas Buenos Aires reduziu as exportações no ano passado a fim de atender à crescente demanda doméstica estimulada pelo subsídio dos preços da energia elétrica.
A escassez de reservas nos dois países significa que as usinas geradoras de energia elétrica trocaram o gás pelo diesel, que é cerca de três vezes mais caro. “O gás da Argentina é coisa do passado”, afirma Juan Carlos Guajardo, diretor executivo da Cesco, uma organização vinculada à indústria de cobre do Chile. Ele teme um “risco bastante real de problemas de produção” para o cobre chileno neste ano, já que a escassez de gás é agravada pela carência de chuvas, que afetará a produção hidroelétrica, gerando a possibilidade de apagões.
Na Argentina, os baixos preços da energia elétrica afastaram os investimentos em projetos para o aumento da produção doméstica de gás, e o governo tem apelado para as importações suplementares da Bolívia. Mas a Bolívia não consegue atrair capital estrangeiro para incrementar a sua produção desde que enviou tropas para nacionalizar a sua indústria de gás em 2006, e agora admite ser incapaz de atender aos ambiciosos acordos de exportações firmados com a Argentina e o Brasil, o seu outro cliente estrangeiro.
A Bolívia firmou contratos para o fornecimento de até 30 milhões de metros cúbicos de gás diários ao Brasil e de 7,7 milhões à Argentina. No momento, ela só está fornecendo cerca de 27 milhões de metros cúbicos diários ao Brasil e três milhões ou menos à Argentina. À medida que aproxima-se o inverno do hemisfério sul, a demanda de ambos os países aumenta.
A Argentina está enfrentando graves racionamentos de energia, e luta para conter a demanda de eletricidade, apesar de um programa governamental para a economia de energia elétrica. De acordo com a consultoria Fundelec o consumo de eletricidade atingiu níveis recordes em janeiro deste ano, alcançando um patamar que foi quase 5% superior ao mesmo mês do ano passado.
No Brasil, onde a maior parte da energia elétrica é gerada por usinas hidroelétricas, a baixa pluviosidade fez com que aumentasse a dependência das usinas movidas a gás. Na semana passada a Bolívia tentou persuadir o Brasil a aceitar uma redução das suas importações de gás para permitir que a Argentina recebesse uma quantidade maior do produto, já que este país sofreu apagões no início do verão e uma crise de abastecimento de energia elétrica no inverno passado, quando o governo ordenou às fábricas que reduzissem o consumo. Mas o Brasil mantem-se relutante.
Emilio Apud, ex-secretário de Energia da Argentina, diz que o Chile adotou várias medidas para enfrentar a crise. Os chilenos estão construindo duas usinas de gás natural liqüefeito, projetadas para acabar com a dependência da energia argentina no ano que vem, quando usinas movidas a carvão deverão suprir de eletricidade no médio prazo a região de mineração de cobre no norte do país.
A Argentina está planejando construir o seu próprio terminal de gás natural liqüefeito e possui um projeto do mesmo tipo com o Uruguai. Este projeto está bastante atrasado. “Creio que a Argentina terá problemas com o fornecimento de gás… Não tenho dúvida de que os apagões do inverno passado voltarão a ocorrer”, afirma Apud.
Ironicamente, o Chile poderá em breve socorrer a Argentina. Enrique Dávila, diretor da Enap, a companhia estatal chilena de eletricidade, prevê que o Chile poderá ser capaz de exportar um excedente de gás natural liqüefeito para a Argentina em 2010.

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